sábado, 17 de outubro de 2009

Desafinado

Se você disser que eu desafino amor
Saiba que isto em mim provoca imensa dor
Só privilegiados têm o ouvido igual ao seu
Eu possuo apenas o que Deus me deu

Se você insiste em classificar
Meu comportamento de anti-musical
Eu mesmo mentindo devo argumentar
Que isto é Bossa Nova, isto é muito natural

O que você não sabe nem sequer pressente
É que os desafinados também têm um coração
Fotografei você na minha Rolley-Flex
Revelou-se a sua enorme ingratidão

Só não poderá falar assim do meu amor
Este é o maior que você pode encontrar
Você com a sua música esqueceu o principal
Que no peito dos desafinados
No fundo do peito bate calado
Que no peito dos desafinados também bate um coração.

Tom Jobim e Newton Mendonça



Composição de Tom Jobim e Newton Mendonça gravada por João Gilberto em novembro de 1958 e que acabou se transformando num retrato da Bossa Nova, que começava a ganhar as paradas de sucesso naquele ano.

Desafinado nasceu como uma brincadeira cruel dos parceiros Tom Jobim e Newton Mendonça: compor uma apologia dos cantores desafinados (que eles conheciam da noite) numa base musical complexa o bastante para embaraçá-los. Ficou praticamente pronta em uma só noite e consagrou a expressão que já era moda entre os jovens compositores: 'Isto é bossa nova, isto é muito natural'.

Além, é claro, de nos ter sido a principal fonte inspiradora na escolha do titulo do Blog "No peito dos Desafinados”.


Por Egon.








sexta-feira, 10 de julho de 2009

Eu Não Existo Sem Você

Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham pra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você


Tom e Vinícius



Eu não existo sem você e mais um resultado do clássico encontro entre Tom e Vinícius, e em minha humilde concepção uma das mais lindas canções ja concebidas pela dupla.

Lançada oficialmente no album "Canção do amor demais", em primeiro de maio de 1958, Eu nao existo sem você é a setima faixa desse maravilhoso disco, interpretado por Elizeth Cardoso, com o violão do perfeccionista João Gilberto e composto inteiramente por músicas da parceria "Tom Jobim e Vinicius de Moraes".

O album foi considerado o marco zero da bossa nova, não que a mesma tenha nascido a partir dele, mas ele marca oficialmente o seu início. Foi a primeira vez que se ouviu a tal batida da bossa nova com o violão único de João Gilberto, que todo os jovens músicos da época tentaram imitar.

Por Egon.



domingo, 28 de junho de 2009

Carta ao Tom 74

Rua Nascimento Silva, cento e sete
Você ensinando prá Elizete
as canções de canção do amor demais
Lembra que tempo feliz, ai que saudade,
Ipanema era só felicidade
Era como se o amor doesse em paz
Nossa famosa garota nem sabia
A que ponto a cidade turvaria
este Rio de amor que se perdeu
Mesmo a tristeza da gente era mais bela
e além disso se via da janela
Um cantinho de céu e o Redentor
É, meu amigo, só resta uma certeza,
é preciso acabar com essa tristeza
É preciso inventar de novo o amor.
Composição: Toquinho / Vinicius de Moraes

Duas salas, dois quartos e a poetica vista do Cristo, de braços abertos no Corcovado. Esse foi, durante anos, o endereço de Antonio Brasileiro. Tom residiu entre a Praia de Ipanema e a Lagoa Rodrigo de Freitas de 1953 a 1962.
Foi do simples apartamento na Nascimento Silva, 107 que nasceu a Garota que levaria ao mundo a brisa de Ipanema.
O apartamento foi o berço das canções de "Canção do Amor Demais", album de Vinicius e Tom, na voz de Elizete. Acomodou também os ensaios de Tom e João Gilberto para o LP "Chega de Saudade", e hoje, acomoda nossa gratidão pelas aconchegantes instalações que deram início a Bossa Nova.
Carta ao Tom 74 foi escrita pelo Poetinha, após algumas doses de Wisky, como uma homenagem ao amigo e maestro que veio a falecer em 1994.

E se hoje a janela não passa de um quadrado, no coração do Redentor, no Corcovado, Tom ainda escreve sobre o Amor.



Por Edpo.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Se Todos Fossem Iguais a Você

Vai tua vida,
Teu caminho é de paz e amor
Vai tua vida é uma linda canção de amor
Abre os teus braços
E canta a última esperança
A esperança divina de amar em paz

Se todos fossem iguais a você
Que maravilha viver
Uma canção pelo ar,
Uma mulher a cantar
Uma cidade a cantar,
A sorrir, a cantar, a pedir
A beleza de amar
Como o sol,
Como a flor,
Como a luz
Amar sem mentir,
Nem sofrer

Existiria verdade,
Verdade que ninguém vê
Se todos fossem no mundo iguais a você

Tom e Vinícius.


Em 1956, Orfeu da Conceição estréia no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com o cenário criado pelo mais famoso arquiteto brasileiro "Oscar Niemeyer" e de elenco predominantemente negro. Sua estréia selara um acontecimento histórico: a primeira vez que um negro pisava no palco do Teatro Municipal. Porém, esse não é o fato mais peculiar que Orfeu da Conceição trazia. A peça precisava de alguem para musica-la, foi ai que contrataram um jovem pianista de 29 anos, arranjador da gravadora continental e autor de alguns sambas que ja haviam causado alguma repercursão na época.
E eis que surge então, a partir da Peça Teatral Orfeu da Conceição, o mais belo encontro que a música brasileira já viu. E alguns devem estar se perguntando, "mas como assim?", "peça teatral, encontro músical?". E vos respondo sim, e é bastante fácil entender. O autor da peça era o ilustre "poetinha" ou para os menos íntimos Vinícius de Moraes. E o pianista contratado pra musicar a peça, era nada mais nada menos que "Antonio Carlos Jobim".
Iniciava-se então a maior parceria que a música popular brasileira já conhecera, parceria que viajou o mundo, internacionalizando a nossa música, e tornando "Garota de Ipanema" a música brasileira mais regravado no mundo todo, foram mais de 170 gravações em várias línguas e em todos os cantos do mundo.



E sem duvidas outros questinamentos devem estar latejando dentro da cabeça de alguns leitores como, "E porque a música tema do Post é, Se todos Fossem Iguais a Você?". Simplesmente porque foi o primeiro resultado musical desse maravilhoso encontro. E havia lugar mais oportuno para a criação de uma música de tamanha grandeza do que o famoso sobrado da Rua Nascimento Silva, 107? Pois bem, foi exatamente la que ela criou vida e se tornou uma das músicas da trilha sonora de Orfeu da Conceição. Que tempos depois ganhou os LP´s sendo uma das faixas do Primeiro disco de Tom e Vinicius que também se chamava Orfeu da Conceição, pois trazia as músicas da Peça.

E não existe maneira mais ímpar para de terminar de tecer essas singelas linhas que retratam apenas o primeiro capitulo desse que foi o mais grandioso encontro da Música Brasileira, do que dizendo, "Tom, Vinicius. Ah, se todos fossem no mundo iguais a Vocês"!

Por Egon.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Como Dizia o Poeta

Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Nao há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão


Boêmio, mulherengo, fumante e "uísqueiro", Vinicius de Moraes, o famoso "Poetinha",



junto com Antonio Pecci Filho, nosso "Toquinho",



retratou em poucas frases a poesia da vida. Creio que se houvesse no mundo um único poeta, em sua pasta de rascunhos essas linhas não poderiam faltar. É incrível, e talvéz até incompreensível, mas ainda somos mestres e doutores do que não vimos, continuamos a fazer as mesmas coisas e a esperarmos por resultados diferentes. Deixamos a soma de lado e a multiplicação hoje é obsoleta. Exponenciamos em busca de resultados precoces, que enriquecem aos que veem, e empobrecem os que fazem, ao passo em que a lógica da felicidade se resume em dividir.

Por Edpo.